São Paulo - Pelas
ruas da cidade é possível encontrar pessoas das
mais variadas tribos: punks, clubbers, hippies, entre muitas outras.
Os góticos, por exemplo, vestem-se de preto, usam maquiagem
escura, preferem uma literatura que se aproxime mais do mórbido,
vão à cemitérios e, em geral, são
pessoas bem interessadas por arte e cultura. É possível
encontrar um gótico à noite, mas eles tem seu espaço
em bares, casas noturnas e lojas.
Segundo a estudante do ensino médio, Bárbara
Thompson, 16, góticos são pessoas tristes com o
mundo em que vivem, e o enxergam de outra forma. Em seus trabalhos
artísticos, a escuridão torna-se uma característica
marcante retratando um mundo de dor, rejeição e
tristeza. Para muitos isso se dá pelo fato de serem pessoas,
em sua grande maioria, sensíveis.
A Internet tem servido atualmente para divulgar
essa cultura, possibilitando uma maior troca de informações.
O metalúrgico Rodrigo Quintaneiro, 24, diz que "ser
gótico é encontrar, e cultivar em si a essência
que tende à solidão, ao noturno, sombrio".
Ele é um dos responsáveis pela produção
do site Spectrum Gothic, dedicado a informar sobre cultura gótica
e assuntos relacionados.
O universo dessa tribo urbana pode ser encontrado
em diversos meios de expressão, porém não
é tão fácil encontrar alguém dessa
tribo, ao menos que se procure em locais voltados para esse segmento.
"Enquanto a maioria dos movimentos sócio-culturais
(ou tribos urbanas) busca a exposição, socialização
e o consumismo, o movimento gótico se opõe. Os góticos
preferem a solidão, evitam se expor e não são
adeptos do consumismo massificado", afirma Rodrigo Quintaneiro.
Segundo o DJ Cid Vale Ferreira, do site Carcasse
- Comunidade Virtual da Arte Obscura, o gótico paulista
não mantém os traços do gótico inicial.
Em eventos como o RIP, que ocorre quinzenalmente no bar Salamandra
(casa noturna localizada no Bairro de Pinheiros) o movimento sobrevive
basicamente pela sociabilidade desse pessoal pois ocorre uma troca
muito grande de informações.
Bandas como Bauhaus
e The
Cure, escritores como Edgar
Allan Poe e Lord
Byron, fazem parte da cultura dessa tribo. "A arte
anda junto com o gótico, enfim, muitas coisas fora da compreensão
humana e que causam fascínio pelo obscuro", diz
Bárbara Thompson a respeito das formas de expressão
góticas.
"Meu trabalho mescla, basicamente, cultura
pop à coisas mórbidas, macabras. Sempre trabalho
a partir do preto e depois parto para outras cores. Uma referência
muito forte são pessoas fossilizadas. Uso muito materiais
que se aproximam do fóssil", declara o ilustrador,
artista plástico e cineasta Victor Hugo Borges. Ele afirma
que ideologia é falsa, pois é algo totalmente mutável.
"Isso pode ser comprovado pela história
da arte: os renascentistas usavam o termo gótico para descrever
a arte bárbara; no século XVIII, o gótico
passou a ser sinônimo de literatura de horror, no século
XX, está muito ligado ao cinema de horror; que depois absorveu
a estética de horror clássica do século XVIII",
afirma Cid Vale Ferreira, a respeito das transformações
pelas quais o termo gótico já passou.
Texto original
de Marcus Vinícius Corrêa de Alencar
Estudante de jornalismo
da Faculdade Integração Zona Oeste