Lendas e mitos são elementos essenciais na constituição de todas as culturas e civilizações. Do cristianismo ao folclore nórdico; dos contos africanos aos mitos dos aborígenes americanos, não é raro encontrar uma estrutura linear e semelhante entre estas "estórias", mesmo que distantes no tempo e no espaço. Isso se deve ao motivo de que uma lenda é continuidade de outra; porém, acrescida de detalhes e adaptadas à situação na qual se encontrava. No riquíssimo período medieval não foi diferente.

Um elemento essencial da vida medieval foi a pregação. Nessa época, pregar não era monologar em termos escolhidos perante um auditório silencioso e convencido. Pregava-se um pouco por todo lado, não apenas nas igrejas, mas também nos mercados, nos campos de feira, no cruzamento das estradas; e de modo muito vivo, cheio de calor e de ímpeto. O pregador dirigia-se ao auditório, respondia às suas perguntas, admitia mesmo as suas contradições, os seus rumores, as suas invectivas.

Um sermão agia sobre a multidão, podia desencadear imediatamente uma cruzada, propagar uma heresia, preparar revoltas. O papel didático dos clérigos era então imenso. Eram eles que ensinavam aos fiéis a sua história e as suas lendas, a sua ciência e a sua fé; que comunicavam os grandes acontecimentos, transmitia de uma ponta à outra da Europa a notícia da tomada de Jerusalém, ou a da perda de Saint-Jean d’Acre; que aconselhavam uns e guiavam outros, mesmo nos seus negócios profanos.

Nos nossos dias são prejudicados nos seus estudos e na vida aqueles que não têm memória visual, a qual, no entanto, é mais rara, de exercício mais automático e menos racional que a memória auditiva.

Na Idade Média a pessoa instruía-se escutando, e a palavra era de ouro. Se a expressão "cultura latente" teve sentido alguma vez, foi na Idade Média. Todos têm então um conhecimento pelo menos corrente do latim falado e articula o cantochão, que supõe senão a ciência, pelo menos o uso da acentuação.

Todos possuem uma cultura mitológica e lendária. Acontece que as fábulas e os contos dizem mais sobre a história da humanidade e sobre a sua natureza do que uma boa parte das ciências inscritas nos nossos dias, nos programas oficiais.

Nos romances publicados por Thomas Deloney, vemos os tecelões citar nas suas canções Ulisses e Penélope, Ariana e Teseu. Os vitrais têm sido chamados "a Bíblia dos iletrados", porque neles os mais ignorantes decifravam sem esforço histórias que lhes eram familiares. Realizavam assim, com toda a simplicidade, esse trabalho de interpretação que tanta canseira dá aos arqueólogos na época atual.

 

 

Extraído e adaptado de www.contoselendasmedievais.blogspot.com.br